Em um momento decisivo para o desenvolvimento social e econômico do Brasil, as fundações e o investimento social surgem como forças propulsoras de mudanças profundas. Mais do que doações pontuais, estamos diante de uma transformação estrutural que une capital, conhecimento e propósito.
O ano de 2024 registrou um marco histórico: empresas e instituições brasileiras destinaram R$ 6,2 bilhões em impacto social, representando um crescimento de 19,4% em relação a 2023. Esse salto não reflete apenas generosidade, mas também estratégia corporativa de longo prazo.
O volume alocado pelas organizações se distribuiu em duas frentes complementares: R$ 4,79 bilhões de recursos próprios e outros R$ 1,42 bilhão via incentivos fiscais. Essa diversidade de fontes reforça a sustentabilidade dos projetos.
Além disso, o terceiro setor brasileiro representa hoje 4,27% do PIB, somando mais de R$ 220 bilhões em atuação. Fundações filantrópicas, institutos e organizações sociais sem fins lucrativos atuam em redes colaborativas, potencializando resultados.
Pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) evidenciam retornos expressivos:
Quando cada real investido rende quase o dobro de riqueza, fica claro por que o Brasil dedica 21,1% do PIB a previdência, educação, saúde e assistência social. A educação, em especial, gera valor econômico significativo.
O mecanismo por trás desses retornos baseia-se no foco em famílias de baixa renda, que tendem a consumir bens nacionais e aquecer a economia interna, gerando empregos e dinamizando cadeias produtivas.
O relatório “Perspectivas para a Filantropia no Brasil 2025”, do IDIS, aponta seis frentes que demandam atenção estratégica das fundações e empresas:
Essas áreas representam tanto urgências imediatas quanto alicerces para o fortalecimento de comunidades vulneráveis e o equilíbrio socioambiental.
O venture philanthropy surge como uma abordagem que alia rigor de venture capital ao propósito social. Investidores buscam indicadores de desempenho e resultados escaláveis em iniciativas de impacto.
Paralelamente, cresce o foco em capacity building: programas de desenvolvimento institucional que capacitam organizações a planejar, gerir e medir seus próprios resultados. Fundos patrimoniais também ganham destaque, assegurando financiamento perene para as OSCs.
Conscientes de que o desafio social supera qualquer esforço isolado, empresas edificam parcerias com cadeias de valor, setor público e outras fundações. O co-investimento permite compartilhar riscos, amplificar alcance e evitar duplicidade de esforços.
Essa estratégia se traduz em projetos conjuntos por causas ou territórios, onde diferentes atores unem expertises e recursos para transformar realidades locais de forma integrada.
O pilar social do ESG ganhou força irreversível. Instituições como o Itaú estabeleceram metas ambiciosas: 35-40% de mulheres na liderança e 27-30% de representatividade negra até 2025, além de milhões destinados a valorização da cultura negra.
Organizações como o ID_BR elevam o debate racial com iniciativas premiadas e selos de igualdade. A aplicação de critérios ESG no investimento social assegura transparência e responsabilidade.
Em cenário de orçamentos públicos restritos, o papel do investimento social privado se intensifica. Os 40% mais pobres da população são o grande motor de desenvolvimento, gerando consumo e empreendimentos locais.
A filantropia estratégica, orientada por dados e resultados, torna-se caminho para romper barreiras culturais e consolidar ganhos, especialmente na educação. O potencial transformador do investimento social reside em sua capacidade de unir setores e inspirar inovação.
Para 2025, fica o chamado: mais do que aportar recursos, é preciso co-criar soluções, fortalecer governança e garantir que cada centavo gere impacto mensurável. O futuro que desejamos construir depende da coragem de investir com inteligência, empatia e visão de longo prazo.
Referências