Em um momento em que a transição energética se torna cada vez mais urgente, a energia geotérmica surge como uma alternativa promissora. Embora ainda pouco explorada no Brasil, essa fonte tem potencial para transformar paisagens empresariais e acelerar metas climáticas. Ao considerar fatores técnicos, econômicos, ambientais e regulatórios, podemos perceber que o investimento em geotermia não é apenas viável, mas também estratégico para diversificar a matriz energética nacional.
A energia geotérmica aproveita o calor interno da Terra, extraindo calor de reservatórios subterrâneos. Essa fonte renovável garante fornecimento contínuo, diferentemente de outras fontes sujeitas a variações climáticas. Além disso, suas emissões são extremamente baixas, colaborando com a descarbonização global.
Países como Islândia, Estados Unidos e Filipinas lideram a geração comercial de energia geotérmica. Na América Latina, existem zonas com intensa atividade vulcânica e falhas tectônicas que apontam para um potencial ainda não explorado em escala industrial. Embora algumas regiões utilizem águas termais para turismo e balneários, o aproveitamento energético efetivo permanece restrito.
No Brasil, reservas termais estão distribuídas em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo, com temperaturas que variam de 20°C a 60°C. Anomalias térmicas identificadas no Vale do Rio Grande do Norte e na Bacia do Paraná sugerem oportunidades promissoras para projetos de baixa e média temperatura. Até o momento, o uso se limita a balneários e piscinas termais, mas as possibilidades industriais e comerciais são vastas.
Segundo o Balanço Energético Nacional, a participação da energia geotérmica ainda é considerada residual. Entretanto, projeções indicam que, a médio prazo, a mitigação de emissões pode chegar a 1,0 GtCO2 equivalente ao ano. O custo nivelado de energia (LCOE) para projetos geotérmicos varia conforme profundidade e temperatura, tornando cada empreendimento único em termos de viabilidade econômica.
Fatores como o fator de capacidade elevado, que ultrapassa 90%, garantem alta rentabilidade ao longo da vida útil dos parques geotérmicos. Com políticas de incentivo e tecnologia adequada, esses custos iniciais podem ser reduzidos, aproximando-se dos valores praticados para eólica e solar.
Setores como climatização de hospitais, hotéis e prédios comerciais têm demanda crescente por métodos eficientes de aquecimento e resfriamento. Na indústria alimentícia, o calor de processo pode substituir caldeiras a gás ou biomassa. A agroindústria se beneficia de estufas aquecidas, secagem de grãos e piscicultura.
Apesar das oportunidades, o Brasil enfrenta limitações de alta temperatura, com poucas zonas geológicas ativas. Os custos iniciais de perfuração profunda e equipamentos especializados elevam o investimento necessário. Além disso, a falta de regulação específica e incentivos claros dificulta a atração de investidores.
Problemas técnicos, como corrosão de dutos e alta pressão de fluidos, exigem mão de obra qualificada e pesquisa aplicada. A concorrência com solar e eólica, mais populares e baratas, também representa um obstáculo significativo para a expansão geotérmica.
O lançamento do Programa Nacional de Energia Geotérmica (Progeo) sinaliza avanços em políticas públicas, incluindo incentivos fiscais e apoio a P&D&I. Parcerias entre universidades, setor privado e governo têm potencial para criar uma cadeia local de bens e serviços, gerando empregos e know-how nacional.
Projetos piloto de retrofit em instalações petrolíferas já demonstram viabilidade em países como os EUA. No Nordeste brasileiro, bacias maduras de óleo e gás podem ser convertidas em usinas geotérmicas, criando «clusters» industriais que aproveitam infraestrutura existente.
A energia geotérmica representa um recurso estratégico para a transição energética no Brasil, oferecendo benefícios econômicos, ambientais e sociais. Com o devido amparo regulatório e investimentos em tecnologia, é possível desbloquear um potencial escondido que atenderá a setores diversos e fortificará a segurança energética nacional. O momento é de ação: só assim transformaremos calor subterrâneo em prosperidade sustentável.
Referências