No cenário pós-pandemia, o agronegócio brasileiro encontrou no uso de fontes renováveis não apenas uma forma de reduzir custos, mas um verdadeiro motor de inovação e competitividade. Com um olhar que ultrapassa as fronteiras do campo, produtores, cooperativas e indústrias vêm adotando soluções que unem crescimento econômico e conservação ambiental.
Mais do que uma tendência, essa transformação representa um compromisso estratégico de longo prazo para o setor rural, abrindo portas para mercados globais e consolidando o Brasil como referência em sustentabilidade.
Antes de mergulhar nas iniciativas do campo, é fundamental entender o contexto nacional. Com 49,1% de sua matriz energética composta por renováveis, o Brasil figura como exemplo internacional, superando a média mundial de 14,7%.
Em 2025, a energia solar ganhou destaque, representando 22% da matriz elétrica e registrando a instalação de 147 mil novos sistemas fotovoltaicos apenas no primeiro trimestre, abastecendo mais de 228 mil imóveis em diversas regiões.
Essa diversificação resulta em altos índices de segurança energética e em menor exposição a oscilações de preços internacionais de combustíveis fósseis.
Responsável por 29% de toda a energia consumida no país, o agronegócio não se limita ao uso: ele produz, integra e distribui energia renovável, fortalecendo um modelo de economia circular no campo. Cerca de 60% desse volume provém diretamente de fontes ligadas ao setor.
A adoção desses biocombustíveis reduz significativamente o uso de derivados de petróleo, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e para o cumprimento de metas ambientais.
Além de produzir combustíveis, o agro brasileiro lidera na reciclagem de resíduos, transformando bagaço de cana, palha de milho e esterco em fontes de energia. Esse ciclo virtuoso reduz desperdícios e agrega valor às cadeias produtivas.
A eficiência também avança: a indústria rural registrou em 2024 um consumo de 64,4% de energia vindas de fontes renováveis, com 88,2% da eletricidade proveniente de fontes limpas.
Essa evolução se dá em resposta à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis e reflete a busca por autonomia energética nas propriedades, diminuindo custos operacionais e riscos financeiros.
Apesar dos ganhos, o setor ainda depende fortemente de diesel: em 2022, 73% da energia direta no campo era fóssil. Essa dependência cria sensibilidade a crises geopolíticas e exige esforços para ampliar a eficiência.
A Lei do Combustível do Futuro, que elevou o teor de biodiesel para 15% em 2025 e prevê 25% até 2035, impõe o desafio de processar até 296% mais óleo de soja, visando produzir 12,3 bilhões de litros de biodiesel em 2027.
Alinhado com o crescimento do Nordeste, o duo energia limpa e agronegócio contribuiu com 3,2% de aumento anual do PIB da região entre 2023 e 2024. A interiorização do desenvolvimento mostra que o campo pode impulsionar o progresso local.
Esses avanços ampliam as oportunidades para pequenos e grandes produtores, gerando renda e fortalecendo comunidades rurais.
O horizonte para bioenergéticos é promissor. O mercado global de combustíveis sustentáveis deve atingir US$ 16,8 bilhões até 2030, impulsionado por demandas de aviação e transporte pesado.
Investimentos previstos em usinas e esmagadoras de soja chegam a R$ 52,5 bilhões até 2027, elevando a capacidade de processamento de 60 para 72 milhões de toneladas.
A incorporação de fontes renováveis no agronegócio não é uma moda, mas um caminho estratégico que assegura competitividade a longo prazo e contribui para um modelo de produção sustentável. A trajetória de inovação impulsionada pela energia limpa abre portas para mercados globais e consolida o Brasil como líder no debate climático.
Para vencer desafios como a dependência de diesel e melhorar a eficiência energética, é crucial ampliar investimentos em pesquisa, infraestrutura e capacitação. Somente assim, o agronegócio brasileiro seguirá sendo referência mundial e impulsionador do desenvolvimento verde.
Referências