Em um mundo cada vez mais consciente dos desafios climáticos e sociais, o universo financeiro assume um papel fundamental na construção de um futuro sustentável. O segmento de fundos verdes vem se destacando como protagonista dessa transformação, atraindo recursos e atenção pelo potencial de gerar impacto e retorno simultaneamente. Por meio desses veículos de investimento, é possível alinhar objetivos financeiros e valores socioambientais, criando uma sinergia poderosa entre lucro e propósito.
O apetite por investimentos responsáveis cresce não apenas pela consciência de impacto, mas pela sólida performance histórica que vem ultrapassando fundos tradicionais. Nesta jornada, entender a dinâmica global e local é essencial para quem busca resultados consistentes e um legado positivo.
Os fundos verdes são estruturados sob critérios ESG (Ambiental, Social e Governança), com foco em ativos que promovem a integração rigorosa dos critérios ESG. Existem duas categorias principais: fundos de investimento sustentável (IS), que assumem compromisso formal e integração de critérios ESG em todo o processo, e fundos ESG-related, que consideram esses fatores, mas sem compromisso explícito.
Na prática, os fundos IS aplicam filtros ambientais, avaliam políticas internas de governança e mensuram impactos sociais antes de selecionar ativos. Já os fundos ESG-related podem adotar apenas metodologias de screening, tornando-se mais flexíveis, porém menos aprofundados em impacto.
O mercado global de fundos verdes passou por um período desafiador em 2023, com subscrições abaixo dos patamares de três anos antes e o primeiro trimestre negativo na Europa (-€100 milhões). Nos EUA, o histórico também mostra 10 trimestres consecutivos de saídas líquidas desses fundos.
No entanto, a partir de meados de 2025, observou-se uma recuperação: subscrições globais somaram US$ 4,9 bilhões no segundo trimestre. Ainda assim, esses volumes permanecem abaixo dos picos anteriores, indicando que o potencial de crescimento continua latente.
A Europa domina o cenário global, respondendo por 85% dos ativos globais sustentáveis e 73% do número total de fundos. Isso reflete a maturidade regulatória, maior exigência de investidores e políticas públicas alinhadas ao desenvolvimento sustentável.
O Brasil tem acompanhado essa trajetória com vigor, embora partindo de um patamar menor. Em julho de 2025, os fundos de investimento sustentável (IS) apresentaram números impressionantes:
Apesar disso, os fundos IS ainda representam apenas 0,37% do patrimônio total da indústria de fundos brasileira. No segmento mais amplo ESG, o PL atinge R$ 10,8 bilhões, três vezes menor que o volume dos IS.
Entre as modalidades, observa-se um aumento na preferência por renda fixa ESG, reflexo do cenário de juros elevados e busca por estabilidade. Os FIPs cresceram 246% no ano até julho, enquanto os FIDCs IS trilharam um salto de 260%.
Vários elementos contribuem para esse movimento, unindo a agenda local a esforços globais em prol do clima e desenvolvimento sustentável. Dentre eles destacam-se:
Essas iniciativas criam um ambiente favorável ao investimento verde, oferecendo segurança jurídica, incentivos fiscais e acesso a capital de longo prazo.
Mesmo diante do crescimento anual de 48,4% merece celebração, o segmento enfrenta barreiras que ainda limitam seu potencial. A educação financeira de investidores e gestores precisa evoluir para reduzir a visão de nicho, e a padronização de relatórios e métricas ESG é essencial para garantir confiança.
Ainda há desafios de educação financeira e transparência, além da necessidade de maior incentivos regulatórios. A integração de regras claras para divulgação de dados e auditoria independente fortalecerá a credibilidade e atrairá novos recursos.
Ainda assim, o futuro se mostra promissor: fundos de infraestrutura e private equity verde ganham espaço, enquanto a maturidade do debate climático e avanços regulatórios devem ampliar a base de investidores. A convicção dos aplicadores, aliada à transição energética global rumo à sustentabilidade, cria um cenário de expansão contínua.
Os fundos verdes não são apenas uma tendência passageira. Eles representam uma mudança de paradigma, onde aliar valores socioambientais ao potencial de retorno financeiro se torna a melhor estratégia para enfrentar os desafios do século XXI. A trajetória de crescimento pode acelerar conforme aumenta a conscientização, aprimoram-se as regras e amadurecem os mercados.
Para investidores, a mensagem é clara: analisar com cuidado as estratégias de cada fundo, verificar histórico de performance e exigência de relatórios, e considerar a inclusão de fundos verdes como parte de um portfólio diversificado. Dessa forma, é possível obter ganhos atrativos e, ao mesmo tempo, contribuir para um amanhã mais justo e sustentável.
Referências