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Desafios e Oportunidades do Investimento Social no Brasil

Desafios e Oportunidades do Investimento Social no Brasil

04/12/2025 - 03:32
Lincoln Marques
Desafios e Oportunidades do Investimento Social no Brasil

O investimento social corporativo (ISC) no Brasil atingiu em 2024 um patamar inédito, superando R$ 6,2 bilhões destinados a ações de impacto. Esse resultado representa um aumento de 19,4% em relação a 2023, segundo a pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) 2025, da Comunitas. Esse crescimento só foi superado em 2020, no auge da pandemia, quando as empresas mobilizaram esforços extraordinários para mitigar a crise sanitária.

Com mais recursos próprios e incentivados, o setor corporativo se consolida como protagonista na resolução de problemas estruturais. Mas, por trás desse avanço, há desafios que exigem novas estratégias de governança e sustentabilidade. Da mesma forma, surgem oportunidades para inovar, formar parcerias e promover transformações que ultrapassem a dimensão filantrópica.

Crescimento Histórico e Panorama Atual

O ISC alcançou em 2024 o montante recorde de R$ 6,2 bilhões. Do total, R$ 4,79 bilhões foram recursos próprios das empresas, apresentando um salto de 35% em relação a 2023. Os recursos incentivados — por meio de mecanismos como a Lei Rouanet e a Lei do Incentivo ao Esporte — somaram R$ 1,42 bilhão. Esses números refletem um movimento de fortalecimento das práticas de investimento social, que deixou de ser apenas responsabilidade social corporativa para se tornar estratégia de negócio inteligente.

  • Total investido em 2024: R$ 6,2 bilhões (+19,4%)
  • Recursos próprios: R$ 4,79 bilhões (+35%)
  • Recursos incentivados: R$ 1,42 bilhão
  • Unidades analisadas: 337 negócios e 22 institutos

Principais Áreas de Atuação

A pesquisa BISC revela que educação permanece como principal foco de aplicação dos recursos, seguida por cultura. Em seguida, aparece a inclusão produtiva, com ênfase em qualificação profissional e empregabilidade, fundamental para enfrentar o apagão de talentos no mercado.

Emergências climáticas também ganharam atenção sem precedentes em 2024. Ações humanitárias voltadas a desastres naturais passaram a compor o portfólio de muitas empresas. Junto a isso, percebe-se o crescimento da saúde mental como prioridade, apontando para uma abordagem mais holística do bem-estar social.

  • Educação e cultura
  • Inclusão produtiva e qualificação
  • Emergências climáticas e humanitárias
  • Saúde mental e diversidade

Modelos de Atuação e Tendências

Um dos principais movimentos observados é o aumento do financiamento de projetos por meio de parcerias com organizações da sociedade civil (OSCs), em vez de execução direta das ações pelas empresas. Essa mudança valoriza a sociedade civil organizada e estimula a coconstrução de soluções.

Além disso, o co-investimento e parcerias têm ganhado força, com alianças entre setores, cadeias de valor e territórios. A pulverização do investimento mostra que o setor industrial agora rivaliza com o de serviços, atuando em múltiplas causas, enquanto as empresas de serviços continuam com forte foco em educação.

Desafios Estruturais

Apesar dos avanços, o Brasil enfrenta desafios profundos. O apagão de talentos persiste, intensificado pela desigualdade social e pela rápida digitalização do mercado. A formação de mão de obra qualificada ainda carece de programas de longo prazo, articulados entre empresas, governo e instituições de ensino.

As emergências climáticas impõem respostas urgentes. As empresas precisam desenvolver estratégias de prevenção e adaptação, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Ao mesmo tempo, a governança das OSCs — responsáveis pela execução de muitos projetos — demanda fortalecimento, para assegurar transparência e eficácia.

Por fim, garantir a continuidade dos investimentos exige planejamento financeiro e estratégico. O desafio é evitar que o aporte social seja apenas reativo a crises, mas parte de uma agenda permanente de transformação.

Oportunidades para 2025 e Além

O contexto atual abre espaço para diversas oportunidades de inovação social. As empresas podem atuar como agentes de transformação, respondendo a demandas sociais e, ao mesmo tempo, fortalecendo sua reputação e competitividade.

  • Investimentos em qualificação profissional para reduzir o déficit de talentos
  • Parcerias estratégicas com OSCs para soluções mais eficazes
  • Expansão do co-investimento entre empresas, setores e territórios
  • Fomento à inovação por meio de desafios e laboratórios sociais

Outro ponto relevante é a crescente presença de pequenas e médias empresas no ISC. Ao diversificar o aporte privado, amplia-se a capilaridade e o alcance das ações, beneficiando comunidades antes marginalizadas pelo investimento institucionalizado.

O Papel das Empresas como Agentes de Transformação

Patrícia Loyola, diretora de investimento social da Comunitas, destaca: “A inteligência social da empresa pode vir a responder o ponto qualificação profissional.” Para ela, o grande diferencial das organizações está na capacidade de integrar o ISC às estratégias de negócio, gerando valor compartilhado.

Paula Fabiani, CEO do IDIS, reforça esse conceito ao afirmar que “a filantropia se mostra ainda mais necessária em momentos de crise, funcionando como espaço de resistência, inovação e, acima de tudo, esperança em ação.” Essas vozes de liderança evidenciam a importância de alinhar propósito social e sustentabilidade financeira.

Perspectivas para o Futuro

Em 2025 e nos anos seguintes, espera-se a consolidação do investimento social como ferramenta de desenvolvimento. As empresas deverão aperfeiçoar a mensuração de impacto, fortalecer a governança e expandir a base de parceiros.

O cenário brasileiro, marcado por desafios estruturais, torna-se terreno fértil para soluções colaborativas. Ao investir de forma contínua e estratégica, o ISC pode reduzir desigualdades, proteger o meio ambiente e criar oportunidades para futuras gerações.

Assim, o desafio de hoje se converte em oportunidade de amanhã. Com coesão, inovação e compromisso, o Brasil tem diante de si a chance de escrever uma nova história de progresso social, onde empresas e comunidades prosperem juntas.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

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