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O Potencial Inexplorado dos Títulos Verdes (Green Bonds)

O Potencial Inexplorado dos Títulos Verdes (Green Bonds)

09/12/2025 - 18:17
Lincoln Marques
O Potencial Inexplorado dos Títulos Verdes (Green Bonds)

Os títulos verdes têm emergido como uma ferramenta-chave para financiar projetos de baixa emissão de carbono e alto impacto social. No contexto brasileiro e global, esse instrumento ainda guarda oportunidades inexploradas capazes de acelerar a transição sustentável e reforçar o compromisso com as metas climáticas do Acordo de Paris.

Definição e Contexto

Os títulos verdes são títulos de dívida emitidos para captar recursos destinados a projetos com benefícios ambientais claros, como energia renovável, conservação florestal e infraestrutura resiliente. Surgiram com o objetivo de alinhar o financiamento privado e público às demandas de sustentabilidade.

Em um cenário em que a agenda ESG (ambiental, social e de governança) avança, entender o papel desses títulos é fundamental para investidores e emissores. Por meio dessa perspectiva, podemos avaliar como o Brasil se posiciona diante de outras economias emergentes e desenvolvidas.

Crescimento do Mercado e Indicadores

No Brasil, o volume acumulado de títulos verdes, sociais, de sustentabilidade e vinculados (VSS+) atingiu USD 67,8 bilhões até junho de 2025. Desse total, USD 30 bilhões correspondem a títulos rotulados especificamente como verdes, tornando o país o maior emissor da América Latina.

O alinhamento das emissões brasileiras com metodologias reconhecidas (Climate Bonds Initiative) chegou a 93% no primeiro semestre de 2025, superando os 88% do período anterior, o que reforça a credibilidade do mercado. Dos 152 emissores no segmento VSS+, o corporativo responde por 82% do volume alinhado, sendo que 51% das emissões ocorrem em moeda local.

No âmbito internacional, o Brasil lançou a primeira emissão soberana verde em novembro de 2023, no valor de US$ 2 bilhões. Até novembro de 2025, o Tesouro realizou três emissões, totalizando US$ 4,5 bilhões em circulação, com forte demanda: na última oferta de US$ 2,25 bilhões, houve ordem de US$ 6,7 bilhões, atraindo mais de 150 investidores, 74% dos quais da Europa e América do Norte, muitos fundos ESG.

Destinação e Setores Prioritários

Segundo o Arcabouço Brasileiro para Títulos Soberanos Sustentáveis, a destinação dos recursos financeiros varia entre 50–60% para gastos ambientais e 40–50% para gastos sociais. Essa flexibilidade é essencial para atender às demandas de ambos os pilares da sustentabilidade.

  • Energia renovável (eólica, solar e biomassa)
  • Agricultura de baixo carbono e bioeconomia
  • Sistemas de saneamento e infraestrutura hídrica
  • Proteção de florestas e uso sustentável da terra
  • Soluções de adaptação e resiliência climática
  • Títulos azuis para conservação de ecossistemas marinhos e de água doce

Esses setores são essenciais para cumprir as metas da NDC brasileira e apoiar comunidades vulneráveis, contribuindo com iniciativas baseadas na natureza e impulsionando a economia verde.

Credibilidade, Rating e Regulamentação

O Brasil combina mercado nacional e internacional robusto, com emissão corporativa, governamental e de bancos de desenvolvimento. A agência Fitch atribuiu rating BB às emissões soberanas verdes, equivalente à nota para títulos convencionais.

O fortalecimento de estruturas de taxonomia e a adaptação às diretrizes internacionais, como EU Taxonomy, Green Bond Principles e Climate Bonds Standard, elevam a transparência. O Banco Central do Brasil exige transparência e monitoramento dos impactos das emissões, ampliando a confiança de investidores institucionais.

Desafios e Caminhos para Destravar o Potencial

Ainda que o mercado tenha crescido, o potencial é muito maior. Estima-se que o financiamento verde global em emergentes deva alcançar mais de US$ 4 trilhões anuais até 2030, em comparação aos US$ 1,6 trilhão de 2022, para viabilizar a transição climática.

  • Ampliar recursos para adaptação e não apenas mitigação
  • Desenvolver instrumentos para cidades médias e pequenas
  • Fortalecer infraestrutura de dados para reporte de impacto
  • Aprimorar alinhamento regulatório e certificações globais
  • Estimular a integração entre instrumentos públicos e privados

Essas ações podem reduzir barreiras e ampliar a atração de investidores, promovendo maior escala e diversidade de projetos.

O Papel do Brasil e Perspectivas Futuras

A realização da COP30 em Belém, em novembro de 2025, posiciona o Brasil como protagonista na agenda global de finanças verdes. Esse evento deve atrair fundos internacionais e fortalecer a reputação do país como referência para emissões sustentáveis.

Inovações em produtos financeiros, como títulos azuis e sociais, aliadas ao fortalecimento de estruturas de taxonomia e ao aprimoramento das condicionalidades, permitirão que o Brasil consolide seu mercado como padrão internacional.

Com maior integração entre políticas públicas e privadas, ampliação do escopo de projetos e melhor comunicação de resultados, o Brasil pode liderar a expansão de títulos verdes em mercados emergentes, garantindo recursos necessários para uma transição sustentável e justa.

O momento é propício para que emissores, investidores e reguladores se unam na construção de um mercado mais transparente, eficiente e capaz de alavancar o desenvolvimento socioambiental do país e do planeta.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

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